Taiguara Chalar da Silva: “TAIGUARA”, nasceu em 1945, ao fim da II Guerra Mundial e, por isso, recebeu de seus pais, Olga Chalar e Ubirajara Silva, o grande bandoneonista e maestro gaúcho, esse nome indígena que, quer dizer: “Senhor de Si”.
Criado em estreito contato com seu avô, o compositor gaúcho e fabricante de instrumentos musicais Glaciliano Corrêa da Silva, autor de “Estrela Vermelha” e "Graúna", Taiguara, desde seu nascimento, em Montevidéu, viveu seus primeiros anos de vida cercado da música popular do Sul brasileiro e dos ritmos indígenas do Cone Sul da América.
Batizado no Partenon, em Porto Alegre, onde ainda reside sua extensa família gaúcha, adquiriu, por opção própria, desde cedo, a cidadania brasileira. Carioca desde os quatro anos (“sou cariúcho”). Se transferiu com seus pais para o Rio de Janeiro, para Santa Teresa, onde, aos dezoito anos, deu início a seu processo de Opção ao mesmo tempo que à sua carreira artística, ingressando na Ordem dos Músicos do Brasil, trabalhando como “crooner” na noite paulista, participando do Primeiro Festival do Filme do Rio de Janeiro e, no ano seguinte, 1965, gravando seu primeiro disco para a antiga Philips holandesa, com faixas de sua autoria e do seu avô Glaciliano (com orquestrações de Luis Chaves, contrabaixista do Zimbo Trio), e de outros autores brasileiros. Entre Sambas e Toadas, desse disco destacou-se o “Samba de Copo na Mão”, que foi lançado em compacto, em São Paulo, onde Taiguara atuava em shows universitários de Bossa Nova em companhia de Tuca, Toquinho, o Bossa Jazz Trio e outros jovens apresentados por Chico Buarque ao meio universitário e, depois ao “Night Club”, João Sebastião Bar, onde Taiguara atuou ao lado dos profissionais da Bossa paulista como Claudete Soares, Geraldo Vandré e em companhia de Airto Moreira, como “crooner” e pianista.
Lançando seu primeiro disco, passou a residir no Rio, tendo que optar por interromper seus estudos na Faculdade de Direito do Mackenzie College, onde força do Golpe Militar de 64, não era permitida a atividade política, principal objetivo do compositor que, em companhia de seus companheiros de colégio, realizava um trabalho artístico participativo e comunitário que, doravante, lhe seria proibido.
No Rio, ainda inspirado no trabalho literário e político participou do Movimento Musical “Musicanossa”, cantando e declamando poemas e estreou como ator em uma das últimas produções teatrais de cunho literário da época, o musical “Receita de Vinícius” que, em seis meses ininterruptos de grande sucesso no Palco do Teatro Miguel Lemos, em Copacabana, levou milhares de expectadores a vida sofrida e a grandiosa obra de Vinícius de Moraes, já na época cassado como político e proibido como autor.
Toda a imprensa estampou em manchetes a surpresa da estréia de Taiguara, fazendo, apesar disso, silêncio total a respeito da mensagem do espetáculo, o que levou Taiguara e seus companheiros de cena, como Paulo Porto, Maria Pompeu e outros atores da peça e ao diretor Amir Haddad a encerrar a temporada e dissolver a cooperativa do Miguel Lemos. Taiguara que simultaneamente garantia algum espaço de trabalho atuando como “Show Man” na madrugada carioca ao lado de Claudete Soares no Musical “Primeiro Tempo 5 X O”, estreou com esse show no Teatro Princesa Isabel, em Copacabana, e depois de cinco meses de temporada reestreou no Teatro de Bolso, em Ipanema, onde o espetáculo permaneceu por mais quatros meses de sucesso.
Estendeu seu trabalho à televisão desde 1969, quando produziu e apresentou o musical “Farenheit 2000” ao lado de Eliana Pimann, e participou de todos os programas de Paradas de Sucesso da época com:
· “MODINHA”, de Sérgio Bittencourt, com arranjo do Maestro Gaya e a participação especial de Jacob Bittencourt, o saudoso Jacó do Bandolim, com a qual venceu o Festival Nacional “O Brasil Canta no Rio” e chegou ao 1º lugar em todas as paradas de sucessos de 1968 e 1969.
· “HELENA, HELENA, HELENA”, de Alberto Land, vencedora do Festival Universitário de 1969 e 1º lugar nas paradas de 1969 e 1970 em todo o Brasil.
· “HOJE”, de sua autoria, com o autor ao piano, com a qual retomou sua dedicação à composição popular e o primeiro lugar nas paradas de todo o país em 1970, recebendo o título de “Melhor Compositor de 1970” do júri presidido por Helena Silveira para o prêmio anual da Rede Globo de Televisão.
A canção “Hoje” recebeu também em São Paulo, o título de melhor composição de 1970, conquistando o Troféu “CHICO VIOLA” e vários outros. Em 1971, a canção “Hoje” foi escolhida por um júri de famosos artistas e críticos de todos os países europeus, em Spot, na Polônia, e a Imprensa Européia registrava o Brasil como favorito quando, há uma semana do evento internacional, o Governo e as autoridades militares cancelaram a participação do Brasil, suspendendo o financiamento à Radio Ministério de Educação e Cultura para a viagem e demitindo seu diretor, que não obteve outros meios de realizar a viagem em companhia de Taiguara, seus músicos acompanhantes e empresário: o advogado Max Goldkorn.
· “UNIVERSO NO TEM CORPO”, também de autoria de Taiguara, foi um momento de descrença e revolta que ironicamente levou o compositor às paradas de sucessos em todo o país por dois anos consecutivos e por muitos anos após o Festival Internacional, que, em 1971, consagrou definitivamente o artista, apesar de todas as restrições impostas à Direção do Festival para que este não deixasse o 1º Prêmio do Festival em mãos de Taiguara. O resultado, a famosa e histórica Maior Vaia do Ano, durante a qual trinta mil pessoas demostravam seu inconformismo com a perseguição inexplicada ao compositor, vaiando o injusto sétimo lugar, provocou a mesmo tempo, rápida ascensão do artista à condição de maior vendedor de discos de sua contratante, a multinacional EMI, conhecida por EMI-Odeon, à conquista de todos os prêmios do compositor e intérprete de importância na época e à inevitável perseguição da Censura Federal que, doravante, não mais liberaria nenhuma de suas músicas românticas sob o argumento de que seus versos “incomodavam os fãs da música romântica nas altas esferas”. E censores como a famosa “D. Marina” ficavam famosos às custas do silêncio imposto a Taiguara, sem que a imprensa registrasse o que, eventualmente, não podia. Nem mesmo estrear o espetáculo “Fotografias”, ao lançar o LP do mesmo nome em São Paulo, o compositor teve publicadas referências às várias músicas proibidas nesse show, que eram apresentadas com arranjos instrumentais. Nos quatro meses de apresentação no Teatro Ruth Escobar os censores ali compareciam quase diariamente fazendo exigências às vezes impossíveis de cumprir como a supressão de fotos de Antônio Guerreiro e David Zingg e cortes nas falas. Ao estrear no Rio, o show foi fechado por “falta de segurança” no Teatro Pigalle.
· “VIAGEM” - Foi liberada em alguns Estados e proibida em outros, ainda assim tendo conquistado o primeiro lugar em algumas paradas de sucessos durante 1970 e 1971 e em companhia de “Hoje” foi gravada por vários dos mais famosos cantores brasileiros, como: Orlando Silva, Ângela Maria, Moacir Franco, Antônio Marcos (que gravou “Amanda” e “Mensagem De Um Planeta Perdido”, depois proibida), Vanusa, Evinha, Claudete Soares, Maysa, Doris Monteiro, Carminha Mascarenhas, Pery Ribeiro (que gravou também “Coisas”) e outros grandes intérpretes de nossa música popular.
· “TEU SONHO NÃO ACABOU” - Foi outro de seus sucessos, tendo sido modificada em sua letra para atender às necessidades das Multinacionais de não permitir um combate cultural à mensagem dos BEATLES, principal objetivo do compositor com essa obra musical, contrária o gosto pela tese britânica do “fim do sonho” que Lennon lançava à venda pela mesma gravadora que tinha TAIGUARA sob contrato, a já referida Odeon inglesa.
· “QUE AS CRIANÇAS CANTEM LIVRES” - Foi o último sucesso permitido ao compositor que agora já tinha contra si também a Multinacional que o contratara, esta dizendo-se “ameaçada pelas autoridades de perder a licença” e passado a colaborar ativamente na censura aos trabalhos do compositor.
Orientados pelos censores, os dirigentes estrangeiros da Empresa, retiraram de catálogo todos os discos do compositor e reeditaram seus sucessos de cunho romântico como “Maria do Futuro”, “Carne e Osso”, “Piano e Viola”, “Berço de Marcela”, em conhecidos discos de “sucessos” de qualidade inferior, apenas para não agredir o mercado com uma proibição quixotescas do “sumiço” de um “artista temperamental” distraindo assim o público das poucas entrevistas em que o compositor denunciava sua condição: seus três LP’s já proibidos, incluindo um gravado inteiramente em Londres com músicos da Sinfônica de Londres, em inglês, proibido antes de ser editado, perfazendo sessenta e oito composições proibidas, somadas às ameaças e recomendações às rádios e televisões para que gelassem TAIGUARA.
De volta ao Brasil em 1976 de sua estada em Londres, onde durante cerca de um ano e meio na Capital inglesa, cursou a pós-graduação da Guildhall of Music and Drama e produziu, com músicos britânicos, seu oitavo LP, produziu com Hermeto Paschoal, no Rio e em São Paulo, seu LP mais perseguido por ter passado pela Censura Federal sob a autoria de Gheisa Gomes Paiva, sua 1º esposa, como único recurso para gravar no Brasil. Inspirado num Brasil Indígena e no real significado do nome TAIGUARA, que significa: Livre, Forro, Senhor de Si, o disco “IMYRA TAYRA IPY”, responde ao desprezo do sistema pelo Índio Brasileiro e enaltece a gente brasileira criticando a ditadura das multinacionais.
TAIGUARA, que teve seu último espetáculo “BRASIL” proibido por todos os meios em 1973, quando lançava o LP “FOTOGRAFIAS”, no Rio de Janeiro, era agora impedido pelas autoridades no Rio Grande do Sul de realizar o lançamento de “IMYRA TAYRA IPY” entre as Ruínas das Missões Jesuíticas e tomavam então a decisão que se estenderia por dez anos ininterruptos: a de só voltar a cantar no Brasil quando tivesse as condições mínimas para liberar seus trabalhos como compositor, e quando, como cidadão, tivesse devolvido seu direito ao VOTO.
TAIGUARA insistia em afirmar que “não há nem haverá tão cedo uma verdadeira liberdade de imprensa no país, enquanto os meios de comunicação de massa, como o rádio, a televisão e o disco, assim como os palcos estiverem sob a intervenção da Censura Prévia que vigora desde 1964, só parcialmente interrompida e ainda mantida autoritária e arbitrária no campo da Música Popular Brasileira.”
TAIGUARA, acabava de ter sua primeiras doze músicas liberadas por Brasília e após ter gravado o que o Maestro Gaya chamou ... “o disco mais carregado de toda sua longa vida de músico”, lançava em setembro de 1983, dez anos após a sua última apresentação em público no Brasil, o melhor LP da MPB do ano “CANÇÕES DE AMOR E LIBERDADE”.
O grupo de Taiguara se chamava “ALMA CRIOLA” com o percussionista Beto López (uruguaio), guitarrista Cesar Rebecchi (argentino), e três brasileiros, Joelson Lima (cordas), Romildo Cardoso (contrabaixo) e Cássia Borja (teclados).
Em 1983, ao sair seu LP latino, “CANÇÕES DE AMOR E LIBERDADE”, TAIGUARA anunciou que seu próximo disco seria “dedicado ao Brasil africano”. Numa coerência rara entre artistas populares, seu LP seguinte (planejado desde 1985 e que esperaria onze anos após Canções) foi justamente dedicado quase totalmente a seu lado africano, especialmente o samba, até no título, “BRASIL AFRI”.
Infelizmente, este disco acabou sendo a despedida de TAIGUARA. E até parece que ele estava adivinhando isso. Além de cumprir a promessa, feita ao sair “CANÇÕES DE AMOR E LIBERDADE”, de que seu próximo LP seria “um disco dedicado ao Brasil africano (...), bem ao gosto da liberdade, com um pé no futuro e, como sempre, muito romântico”, TAIGUARA automaticamente fechou o ciclo, voltando às suas raízes de sambista carioca. Além de bons sambas novos (“Meu Amor, Santa Teresa”; "Menino da Silva"; "Samba do Amor"), o disco traz canções românticas no velho estilo de TAIGUARA (“Maria José”, aliás composta em 1975) e uma regravação de “Hoje” (aliás, o plano original da gravadora era que o disco fosse metade de regravações dos hits de Taiguara). Taiguara nos deixou prematuramente em 14/02/1996 devido a um câncer de bexiga e deixou um legado de amor, liberdade e belas canções que estão por aí, sempre nos fazendo lembrar dele... até a vitória, sempre!
Fonte: http://www.myspace.com/taiguaracantordapaz
Taiguara sim, sinto que foi o maior cantor e compositor da nossa MPB de todos os tempos.Ele é inigualável!!
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