Menos de um mês após o PAUTA DO DIA publicar, com exclusividade, a apreensão de uma carta com conteúdo “explosivo” que poderia ser o indício de uma série de ataques planejados por criminosos da facção Comando Vermelho (CV) a locais públicos e agentes de segurança, a ameaça começa a se cumprir. Em duas semanas, postos de policiamento foram atacados, policiais foram executados, carros foram incendiados e arrastões se repetiram em diversas partes do Estado do Rio.
Lotados no 25º BPM (Cabo Frio), os sargentos Sílvio Rui Vieira Lima e Wagner Lanceta Ramos estavam saindo de serviço, no início da manhã desta terça-feira, dia 23 de novembro, quando foram atacados a tiros, em Araruama, na Região dos Lagos. Os PMs foram surpreendidos por ocupantes de um carro que emparelharam com o veículo em que eles estavam, no momento em que passavam pela praia do Barbudo, na Lagoa de Araruama, às margens da RJ-106. O sargento que dirigia o automóvel perdeu a direção e bateu em um poste. Os dois policiais foram levados por bombeiros para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Araruama, mas não resistiram aos ferimentos.
Até esta tarde, criminosos haviam ateado fogo em 15 veículos, aterrorizando a população fluminense. Os casos mais recentes ocorreram na noite da última segunda-feira, dia 22 de novembro, quando criminosos atacaram uma cabine da PM na Avenida Dom Hélder Câmara, próximo ao Shopping Nova América, em Del Castilho, na Zona Norte do Rio, e colocaram fogo em quatro veículos. Um carro foi incendidado no Estácio, na região central do Rio, e os outros na Zona Norte: dois na Rodovia Presidente Dutra, na altura da Pavuna, e outro na Tijuca.
Pela manhã, cinco homens armados haviam fechado um acesso ao Trevo das Margaridas, no entroncamento da Rodovia Presidente Dutra com a Avenida Brasil, em Irajá, também na Zona Norte. Eles atearam fogo em dois carros e uma van. Pouco antes, os bandidos já tinham atacado uma cabine blindada da PM na Praça Nossa Senhora da Apresentação, no mesmo bairro.
Da noite do último sábado até a madrugada desta terça, sete ataques foram registrados no Estado do Rio – entre incêndios criminosos, arrastões e falsas blitzens.
O primeiro ataque ocorreu no dia 9 de novembro, na Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, onde quatro bandidos atearam fogo em dois automóveis, sem roubar nada dos ocupantes. Os criminosos, que estavam em um Peugeot preto, interceptaram um Gol e um Vectra a cerca de 150 metros do Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. Os carros pertenciam a funcionários da unidade de saúde.
No dia seguinte, no Riachuelo, na Zona Norte do Rio, um Astra foi incendiado após abordagem de bandidos que estavam em um Voyage verde, na Rua Vinte e Quatro de Maio. Em seguida, os mesmos homens colocaram fogo em outro veículo, no Viaduto Procurador José Alves de Morais, no acesso ao Túnel Noel Rosa, na altura do Jacarezinho, em Bonsucesso, também na Zona Norte. O automóvel havia sido roubado na Rua Lino Teixeira.
Horas depois, outros dois carros – o Fiesta vermelho KRM-1853 e o Celta preto KLE-1341, que estavam estacionados – foram queimados na Rua Paulo VI, próximo do acesso ao Morro Azul, no Flamengo, na Zona Sul do Rio.
Na manhã desta terça-feira, o governador Sérgio Cabral Filho solicitou ao ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, o reforço do policiamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) nas estradas que cortam a Região Metropolitana do Rio. O ministro afirmou que policiais de outros estados serão enviados para intensificar o patrulhamento nas rodovias federais.
A ordem teria partido do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, 33 anos. Seria ele – que está preso na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná – o autor de uma carta apreendida em um dos presídios do Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Considerado um dos líderes do CV, ele é nascido e criado em Vila Norma, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense – onde, no dia 27 de outubro, um Posto de Policiamento Comunitário (PPC) do 21º BPM (São João de Meriti) foi atacado a tiros.
Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, 33 anos
Cumprindo pena de 36 anos de prisão pelas mortes de André Luís dos Santos Jorge, o Dequinha, e Rubem Ferreira de Andrade, o Rubinho, Marcinho VP foi condenado por unanimidade pelo Júri Popular. Segundo a denúncia do Ministério Público, o crime aconteceu na madrugada de 11 de outubro de 1996, por motivo torpe e meio cruel, uma vez que as vítimas tiveram suas cabeças e partes do tronco esquartejadas. Os corpos foram encontrados dentro de um bueiro. As vítimas tinham ligação com o traficante conhecido como Leite Ninho, de uma quadrilha rival à do denunciado, que pretendia assumir o controle do tráfico no Complexo do Alemão, na Penha, na Zona Norte do Rio.
O conteúdo da mensagem também está sendo divulgado por parentes e amigos de Marcinho VP, que ainda tem familiares morando em Vila Norma.
A ordem seria atacar postos da PM e colocar uma bomba na Ponte Rio-Niterói. Em fevereiro deste ano, a Polícia já havia apreendido um bilhete escrito à mão endereçado à Vila Norma e cujo conteúdo foi atribuído ao traficante Marcinho VP.
Na época, a orientação era para que comparsas queimassem ônibus e matassem autoridades caso algo fosse feito contra sua família. A determinação foi dada depois que outro cabeça do CV, Isaías da Costa Rodrigues, o Isaías do Borel, viu familiares sendo presos na operação Família S/A, realizada por equipes da 19ª DP (Tijuca).
A Operação Família S.A. foi realizada no final do mês de outubro do ano passado, com o objetivo de cumprir 36 mandados de prisão – sendo 31 preventivas e cinco temporárias – 25 de busca e apreensão e um mandado de seqüestro de bens. Do total, 23 foram cumpridos – sendo que foram presas 10 pessoas, no dia 30 de outubro de 2009, e outras 13 já estavam detidas. Entre elas, Isaías do Borel e William Rodrigues Silva, o Robocop, que é seu sobrinho.
Entre os presos, estavam Flávia dos Santos Oliveira, mulher de Robocop, e Sílvia Regina Rosário Rodrigues e Emília Costa Rodrigues, respectivamente mulher e irmã de Isaías do Borel – que está preso há 17 anos, sendo dois na Penitenciária Federal de Catanduvas, considerada de segurança máxima. Elas são acusadas pela Polícia de levar e trazer recados dos traficantes durante as visitas.
Na mesma unidade em que estão Isaías e Marcinho VP também está o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, 43 – preso em 2002 e condenado a 28 anos e meio pela morte do jornalista Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, o Tim Lopes – assassinado aos 51 anos.
Quase um ano após a prisão de familiares de Isaías do Borel, a mulher de Elias Maluco também está sendo investigada. Policiais da 32ª DP (Taquara) apuram se o patrimônio dela – estimado em R$ 2 milhões – é compatível com a renda que ela declarou ter como estagiária em um escritório de advocacia. De acordo com a Polícia, ela é suspeita de lavagem de direito e associação para o tráfico.
Agora, uma nova carta está deixando em alerta as autoridades. Ela seria o anúncio de que as três maiores facções criminosas do Estado – Comando Vermelho (CV), Amigos dos Amigos (ADA) e Terceiro Comando Puro (TCP) – pretendem se unir. O conteúdo foi encaminhado à Subsecretaria de Inteligência (SSInte) da Secretaria de Estado de Segurança Pública, que tem coordenado ações para impedir os atos de violência ameaçados por integrantes do CV.
Leia a íntegra do documento:
“Foi decretada pela união dos partidos CV, ADA e TCP todos os partidos que tenha respeito e lealdade, força, humildade e amor no coração e muita dignidade a favor de todas as comunidades, por favor se unam a nós.
Foi decretado pela união dos partidos, que quando tiver repressão da polícia em qualquer favela fazendo covardia, derramando o sangue, todas as comunidades pegarão seus fuzis e atiraram em prédios, carros importados e no que tem de mais rico e próximo a sua favela, saqueando empresas, lojas e mercados!
Foi decretado pela união dos partidos, que cada morador inocente pobre que a polícia matar, morrerá duas pessoas ricas.
Foi decretado pela união dos partidos, que cada integrante do partido que a polícia matar morrerá dois policiais e seus familiares, pela união das comunidades que se cansou da covardia dos policiais e do sistema, porque são eles que trazem as drogas e as armas, o empresário financia e a polícia facilita e ficam os políticos roubando bilhões, matando muita gente só com uma caneta, depois quer mandar quem trás as drogas e as armas para o partido vir aqui na comunidade matar inocente. O pobre não dá lucro para a boca de fumo, quem compra todas drogas são as classes médias e os ricos.
- “Irmão, pode piar em qualquer favela olhando na bola dos olhos, mostrar que esse modo de agir é retrólogo, a revolução verbal é aterrorizadora, junta seus pedaços e vem pra arena. O nosso irmão PCC falou que o inimigo está de terno e gravata. É em nome da paz e a favor de todas as favelas, que é a hora da união, da revolução.
Definitivamente, sem união não dá, então vamos todos juntos”.
Relembre:
Comando Vermelho ameaça explodir Ponte Rio-Niterói
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