domingo, 20 de março de 2011

Afinal, qual será o principal assunto das conversas entre Dilma Rousseff e Barack Obama?

Carlos Newton, Tribuna da Imprensa

Não há dúvida sobre a importância da visita de Barack Obama. O líder da nossa Matrix não costuma ficar viajando gratuitamente por aí. Mas o Brasil é um gigante emergente. Quinto maios país em extensão territorial e em população, em breve o sétimo em poder econômico, nada mal.

Mas qual será mesmo o tema principal dos encontros com a presidente Dilma Rousseff? Há quem aposte na crise dos povos árabes, na tragédia nuclear do Japão ou no sonho de o Brasil se tornar membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (onde já está como membro provisório e até se absteve de votar no caso da Líbia do companheiro Kadafi, como era chamado por Lula).

Nada disso. Os americanos não partilham suas políticas estratégicas com ninguém, e na atualidade o assunto mais importante para eles é justamente a crise dos povos árabes, quer dizer, a garantia de fornecimento de petróleo. Nesse particular, até o governo de Hugo Chávez é aceito como parceiro, porque, para os americanos, negócios são negócios, e ponto final. Por fim, o Conselho da ONU não tem a menor importância – o que importa é o poder de veto, e estamos conversados

Só existem dois assuntos importantes a serem conversados. A garantia do futuro fornecimento do petróleo do Pré-Sal aos Estados Unidos e a questão do etanol. Décadas depois da criação do Proálcool no Brasil (governo Geisel), os americanos enfim descobriram a importância do combustível renovável, produzem carros com motores flex e precisam desesperada e estrategicamente de etanol.

Ao contrário do que se pensa, o Brasil não é mais o maior produtor mundial de etanol. Há vários anos já foi ultrapassado pelos Estados Unidos. Com uma política protecionista e que subsidia e incentiva seus produtores, nossa Matrix colocou no mercado, proveniente de suas lavouras, 58 bilhões de litros, enquanto a Filial Brasil ficou nos 38 bilhões de litros.

Mas há uma grande diferença. Nos EUA, o etanol é basicamente extraído do milho com uma produtividade por hectare de quatro a cinco vezes menor do que a alcançada com a cana nas lavouras de São Paulo, as mais produtivas do mundo. Além do álcool custar mais caro, diminui a oferta de milho nos Estados Unidos, o preço do cereal sobe, aumentam também os preços da rações e outros derivados, o tiro sai pela culatra.

O Brasil não pode exportar etanol diretamente para lá, devido à sobretaxa alfandegária que protege os produtores da Matrix, criada pelo Parlamento americano no governo Ronald Reagan. Então, para vender etanol aos EUA, os usineiros aqui da Filial têm de enviar o produto para o Caribe, onde o navio faz escala, recebe uma nota fiscal de alguma empresa local, e depois segue para os States. Simples assim. Todo mundo sabe da mutreta, mas ninguém faz nada, interessa a todas as partes.

Agora, a Matrix não tem condições de elevar a produção, embora até já tenha experimentado plantar cana-de-açúcar ao invés de milho ou sorgo. Na Califórnia, há extensas plantações de cana, mas a necessidade deles é muito maior. A verdadeira salvação da lavoura americana será o etanol tupiniquim, porque o Brasil é o único país com possibilidades de elevar rapidamente a produção, beneficiado pelas condições climáticas e pela avançada tecnologia. Não é por mera coincidência que grandes grupos internacionais estejam comprando as maiores usinas brasileiras. Mas para acertar as coisas, primeiro Barack Obama terá de derrubar a sobretaxa no Congresso, que atinge, única e exclusivamente, a produção brasileira.

Parodiando Chico Buarque e Ruy Guerra: “Ah, essa terra ainda vai cumprir seu ideal, vai se tornar um imenso canavial”. Mas será preciso fazer vultosos investimentos com instalação de muitos tanques de estocagem e com uma adequada logística de transporte até os portos. O grande beneficiado poderia ser o Nordeste, se a tal transposição das águas do Rio São Francisco fosse mesmo para valer. Porém…

De resto, o que mais de importante pode ser conversado entre os presidentes Barack Obama e Dilma Rousseff? Para não dizer que não falei de flores, tratarão da venda de caças à FAB? Ora, o governante da nossa Matrix não costuma cuidar de pequenos negócios.

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