Os Estados Unidos tinha planos de integrar a Líbia ao Africom (Comando Militar dos EUA na África) para estabelecer bases e forças militares de forma permanente no norte do continente africano. Durante as administrações de George W. Bush e de Barack Obama, os norte-americanos tentaram acordos para venda de armas e cooperação militar com o regime de Muamar Kadafi, segundo telegrama de 10 de agosto de 2009, vazado pelo site Wikileaks.
E nada menos do que John McCain, senador pelo estado do Arizona e candidato republicano nas eleições presidenciais de 2008, foi o intermediário de conversas com o governo líbio ocorridas em setembro de 2009. McCain visitou o país norte-africano por ocasião dos 40 anos da ascensão do coronel Muamar Kadafi ao poder e prometeu a Kadafi e seu filho Mutassim "se esforçar para obter do Congresso norte-americano a aprovação para a venda de armas e de cooperação militar".
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Por seu lado, Mutassim Kadafi disse aos senadores da missão norte-americana que a Líbia "poderia obter os equipamentos militares da Rússia ou da China. Mas queremos comprar as armas dos Estados Unidos para obter uma prova de confiança de vocês".
Havia desconfiança de ambas as partes: os EUA queriam ampliar sua influência estratégico-militar no norte da África e obter do governo líbio "maior comprometimento com os direitos humanos". Por outro lado, Kadafi e seu filho queriam "garantias do EUA" que os norte-americanos relutavam em aceitar. Apesar da desconfiança mútua, o governo norte-americano elogiava os esforços da Líbia em lidar com grupos islâmicos extremistas e cortejavam os filhos de Kadafi para visitas oficiais aos EUA.
Wikimedia Commons
O senador republicano pelo Arizona John McCain, derrotado por Obama na última eleição presidencial
Desde 2008, os Estados Unidos mostravam interesse em uma base avançada no norte da África. A Líbia seria o local mais propício por vários motivos: não estava ligada ao terrorismo islâmico, tinha investimentos de empresas norte-americanas e possuía grandes reservas de petróleo. Joseph Liebermann, senador por Connecticut, atesta a melhora nas relações entre os dois países: "Quem imaginaria, 10 anos atrás, que estaríamos aqui em Trípoli sendo recebidos por um dos filhos de Kadafi?", brincou.
Memorando enviado pelo subsecretário de Estado David Welch, revela conversas com o ministro de Relações Exteriores de Kadafi, comentando a retirada da Líbia da lista de países apoiadores do terrorismo e o desejo de sua inclusão no Africom. O número dois do Exército líbio, Abubaker Younes, se opunha a um acordo militar, pois via as tropas norte-americanas no Iraque como forças de ocupação. Por essa razão, sugeriu-se uma visita de William Ward, general comandante do Africom, para Younes,com o objetivo de desfazer o mal-entendido.
Segundo o documento enviado ao general Ward, o governo líbio estava interessado na compra de equipamento militar. Já o governo dos EUA parecia mais interessado em cooperação militar e cobrava do regime Kadafi a participação no Acordo Trans-saariano de combate ao Terrorismo. Os EUA temiam a formação de um "cinturão do terrorismo" no continente, que iria da Mauritânia à Somália.
Entre os "desejos de Kadafi" estavam armas letais e não letais. Nesse sentido, a viagem de Kadafi e seu filho para a Moscou e para a Belarus faziam parte da estratégia de obter preços melhores dos EUA. A venda seria negociada item por item, já que Obama ainda não havia indicado quem iria ocupar os postos-chave na administração militar de seu governo recém-empossado, segundo o telegrama datado de março de 2009.
De acordo com o despacho enviado em 19 de agosto de 2009, McCain prometeu apoiar a venda de armas para a Líbia junto ao Congresso. Também prometeu reabrir o caso dos oito aviões C-130 comprados pela Líbia no começo dos anos 1970 e não enviados por conta do embargo imposto pelos EUA em seguida.
Nenhum dos telegramas permite afirmar que a ajuda da OTAN aos rebeldes teria sido premeditada. A comunicação entre a Embaixada em Trípoli, o Departamento de Estado e as Forças Armadas dos EUA mostram entusiasmo em estreitar o relacionamento com a Líbia. Parecia haver mais interesse do lado norte-americano do que dos líbios: muitos membros da administração Kadafi e do Exército viam a aproximação com reservas.
Fonte: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticia/WIKILEAKS+EM+2009+MCCAIN+INTEGROU+MISSAO+DO+CONGRESSO+PARA+VENDER+ARMAS+A+LIBIA_14769.shtml
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