terça-feira, 24 de janeiro de 2012

AS TROPAS ESTÃO NAS RUAS

corroendo nossa democracia.


Com este texto comemoro meu centésimo post. Queria festejar a marca com um texto leve – quem sabe com uma crônica ou poema – sem muita sediciosidade. Mas os últimos acontecimentos não me deixam passar em branco. O autoritarismo reinante nos aflige, atingindo em cheio nossa democracia, demonstrando o quanto ainda precisamos caminhar para solidificá-la.

As tropas estão nas ruas e não estão para brincadeira. E polícia militar nas ruas, quando o objetivo não é para cumprir o papel de policiamento ostentivo, é coisa séria. Existe uma orquestração política para defenestrar os movimentos sociais. É só surgir uma manifestação e a repressão vem imediata, com a transferência sintomática dos problemas para a esfera da segurança pública, quando a rigor estas demandas são reflexos de questões sociais não atendidas.

Os governos estaduais, justos pelas omissões em relações a estes temas candentes, e por outro lado compromissados com outros setores da sociedade, em especial econômico, não têm a mínima tolerância com os tais movimentos sociais, com os indivíduos lançados nas sarjetas de prédios abandonados, em grande medida resultado da falta de uma política urbana séria e comandada pela especulação imobiliária, dos inoportunos aos olhos de todos – sobretudo dos turistas – e com a própria violência urbana, que é tratada com táticas de combate e enfrentamento de guerra.

Não há mais espaços para diálogos e negociações. É preciso manter “a lei e a ordem”. É preciso afugentar a escória e expelir os “maus” dos espaços destinados às “pessoas de bem” (aquelas que todo dia olham no painel do impostometro, coisa inventa pelas elites paulistas, para saber quanto o governo federal arrecadou de seus rendimentos, sem se preocupar que os impostos deveriam ter destinação ao cumprimento dos interesses comuns).

A orientação é manter “a lei e a ordem” a qualquer custo. Pouco importa se a nossa democracia periga e diminui a cada gesto de agressão e violência das forças oficiais.

Em Teresina e Recife, forças militares estaduais entraram em confronto com estudantes que manifestavam contra o aumento das passagens de ônibus urbanos. A receita foi uma só: tropas de choque nas ruas, com formação de agrupamento, gás lacrimogêneo, munição de borrachas, cacetetes em punho e escudos. Bom, basta o comando e partir para o ataque com todo este aparato. Limpeza das vias públicas para circulação de veículos – porque ninguém é obrigado a suportar manifestação alheia –, inclusive dos ônibus com os novos preços e o lucro das empresas, que não sofrem nenhuma sanção pela péssima qualidade dos serviços prestados.

Em Goiás, como em muitos outros Estados, as blitze policiais sem nenhum motivo, senão para intimidação da população, principalmente mais simples, com a exposição de seus uniformes especiais, de cores bem escuras e brasões de caveira e armas cruzadas. Os autos de prisões em flagrantes forjados, como verdadeiras fórmulas de demonstração de autoritarismo e discriminação. Apurações infundadas, resultantes de puros preconceitos e truculências.

No Rio, e isso não é de hoje, as tropas militares locais, com o auxílio permanente das forças de segurança nacional, subindo os morros com carros blindados, atropelando tudo e todos, em nome da pacificação. Estas ações só ocorrem no cinturão em torno do Estádio do Maracanã e de outros pontos importantes que deverão ser limpos o mais rápido possível, para atender aos comitês organizadores da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Não há um mínimo de respeito aos residentes nestas localidades. Todos são suspeitos de envolvimento com o tráfico e crime organizado, pelo simples fato de residirem ali. Não tem conversa, todo mundo com as mãos encostadas na parede para o baculejo. Para suspeito em potencial não existe meio termo, primeiro, e imediatamente, bordoada, depois interroga-se, se tiver sorte, porque pode acabar morrendo antes com “troca de tiro”, mesmo que não porte arma.

Em São Paulo as forças policiais militares avançaram sobre os estudantes universitários na mais conceituada instituição de ensino superior do país. Resolvidos os problemas naquela praça acadêmica – ou melhor, deixado mais confusão do que quando iniciaram estas ingerências, sob a encomenda da administração da instituição – partiram para a “cracolândia” em pleno centro da cidade. Ali, como quem desentoca animais acoados, botam para fugir verdadeiros zumbis sem rumo algum, usuários de crack esquecidos de toda assistência social. Só faltou a sonografia de Michel Jackson, com Thriller, para que aqueles moribundos saíssem dançando.

Para complementar a saga do discurso de “lei e a ordem”, cujo lema é enfática e rotineiramente repetido pelo governador Alckmim, agora, neste final de semana (21 e 22/01/2012), a eficiente polícia militar de São Paulo novamente saiu a campo, em São Jose dos Campos, interior do Estado. Em plena madrugada de domingo cercaram e invadiram a favela do pinheirinho para arrancar a fórceps milhares de famílias, com crianças, pessoas idosas, cumprindo ordem judicial de desocupação. Tudo acompanhado pelo representante do judiciário, sua Excelência juiz de direito que por certo não consegue diferir o que é justo, apenas exibe o mandado em punho e as justificativas no mais puro juridiquês. As cenas são bizarras, chocantes. Mães com crianças no colo fugindo das chamas que queimam os barracos abandonados às pressas, sobre ordens severas dos militares que ali estão para cumprir “a lei e a ordem”.

Em todos estes palcos lá estão os coletes azuis, não com a missão de paz, mas para reproduzirem a farsa do autoritarismo dos governantes disfarçados de líderes democráticos. Os coletes azuis, falando em rede nacional, noticiam o sucesso das operações policiais, com a fúria de quem vê o próprio veículo em chamas. Para vingarem ou reproduzirem o que lhes são de costume, enquanto os resistentes são anunciados como vândalos, os policiais são glorificados como heróis. Para comprovar o que dizem, separam uma ou outra cena de enfrentamento, conforme a versão oficial de que a força policial fez o que deveria ser feito, somente contrarreagiu às agressões e focos de resistências, como se não fosse legítimo alguém resistir a própria tentativa de supressão da dignidade.

Na entrevista oficial os comandantes aparecem dizendo que foram utilizados os meios necessários, proporcional e gradativamente, chegando às balas de borracha, cacetetes, “bombas de efeito moral” e prisões. Parecem não saber que mesmo sendo de borracha, estes projéteis podem matar ou causar ferimentos graves, principalmente quando o alvo é qualquer um “dos resistentes” em pânico, inclusive crianças e idosos. Em relação “as bombas de efeito moral”, é impressionante como em pleno século XXI ainda se utiliza este conceito para bombas de gás lacrimogêneo, copiado de tempos árduos da ditadura militar. Estes artefatos são lançados no meio desta multidão em alvoroço, sem nenhuma preocupação com quem está ali. O gás, por sua natureza, não escolhe a quem agredir. Atinge todos que estão ao seu redor: adultos, homens, mulheres, crianças, velhos, asmáticos e outras doenças, pessoas literalmente inocentes nesta balbúrdia provocada pelas forças policiais. Somente os atiradores, com suas máscaras é que não sucumbem diante da infestação do gás imoral.

Nesta corrida autoritária assistimos de cá, quase ao vivo, ubilubilados. Cada militar fardado, com seu cacetete e arma em punho, partindo para o ataque de pessoas do povo, violenta nossas consciências. Em cada bomba de gás lacrimogêneo lançada, ofende a moral pública e avilta nossa honra. Em cada espancar de inocentes e expulsão de mães com filhos no colo, viola nossa dignidade. A cada batalhão nas ruas, em nome da defesa “da lei e da ordem”, em detrimento aos clamores sociais, reduz nossa democracia.

As tropas estão nas ruas, típica manobra de governos autoritários. Enquanto isso nós

Fonte: extraído do site do Juiz de Direito Denivalfrancisco thttp://sedicoes.wordpress.com/2012/01/23/as-tropas-estao-nas-ruas-corroendo-nossa-democracia/

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Quero Voltar a Confiar

Por Arnaldo Jabor

Fui criado com princípios morais comuns:

Quando eu era pequeno, mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades dignas de respeito e consideração.

Quanto mais próximos ou mais velhos, mais afeto.

Inimaginável responder de forma mal educada aos mais velhos, professores ou autoridades…

Confiávamos nos adultos porque todos eram pais, mães ou familiares das crianças da nossa rua, do bairro, ou da cidade…
Tínhamos medo apenas do escuro, dos sapos, dos filmes de terror…

Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo aquilo que perdemos.

Por tudo o que

Meus netos um dia enfrentarão.
Pelo medo no olhar das crianças, dos jovens, dos velhos e dos adultos.

Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos.

Não levar vantagem em tudo significa ser idiota. Trabalhador digno e cumpridor dos deveres virou otário.

Pagar dívidas em dia é ser tonto…

Anistia para corruptos e sonegadores…

O que aconteceu conosco?

Professores maltratados nas salas de aula,comerciantes ameaçados por traficantes,
grades em nossas janelas e portas.

Que valores são esses?

Automóveis que valem mais que abraços, Filhas querendo uma cirurgia como presente
por passar de ano.

Celulares nas mochilas de crianças.

Filhos esquecendo o respeito, no trato com os pais e avós. No lugar de senhor, senhora, ficou oi cara, como está coroa(dependendo do tom que se fala..pode ser expressão de carinho)

O que vais querer em troca de um abraço?

A diversão vale mais que um diploma. Uma tela gigante vale mais que uma boa conversa.

Mais vale uma maquiagem que um sorvete.

Mais vale parecer do que ser…

Quando foi que tudo desapareceu ou se tornou ridículo?

Quero arrancar as grades da minha janela para poder tocar as flores!

Quero me sentar na varanda e dormir com a porta aberta nas noites de verão!

Quero a honestidade como motivo de orgulho.

Quero a retidão de caráter, a cara limpa e

o olhar olho-no-olho. Quero sair de casa sabendo a hora que estarei de volta, sem medo de assaltos ou balas perdidas

Quero a vergonha na cara e a solidariedade. Onde uma palavra valia mais que qualquer documento assinado

Quero a esperança, a alegria, a confiança de volta!

Quero calar a boca de quem diz:

“ temos que estar ao nível de…”, ao falar de uma pessoa.

Abaixo o “TER”, viva o “SER”

E definitivamente bela,como cada amanhecer.

E viva o retorno da verdadeira vida, simples como a chuva, limpa como o céu de primavera, leve como a brisa da manhã!

Quero ter de volta o meu mundo simples e comum.

Vamos voltar a ser “gente” Onde existam amor, solidariedade e fraternidade como bases.

A indignação diante da falta de ética, de moral, de respeito...

Construir um mundo melhor, mais justo, mais humano, onde as pessoas respeitem as pessoas.

Utopia? Quem sabe?... Precisamos tentar…
Quem sabe começando a encaminhar ou transmitindo essa mensagem…

Nossos filhos merecem e nossos netos certamente nos agradecerão!

Autor desconhecido


Teremos de volta nossa dignidade

Nosso respeito

Nossos direitos

Nossas vidas

Pense! Decida!





Só Depende, de você

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

SOMOS UMA FARSA!

Alex Carrari

“Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” Mt 15.7-9

Salvo alguns que não se dobraram a baal, somos todos uns canalhas. Eu, você, nós todos somos uma grande farsa, a maior de todas as farsas. E sabe por quê?
Organizamos nossas vidas de modo que tenhamos o mínimo dispêndio com a garantia do maior e melhor retorno. Fingimos que somos de outra estirpe, a dos filhos prediletos. Como filhos prediletos, queremos ser restituídos, queremos de volta o que é nosso. Rejeitamos todo mal, declaramos a nossa vitória, quebramos todas as correntes, exigimos nossa benção, sacudimos o inferno, não por sermos de Espírito libertário, muito menos altruístas; reagimos às ameaças negativas do “no mundo tereis aflições”como bons invólucros do espírito do capitalismo, do que é nosso e ninguém tasca, sendo essa nossa ética gospelizante. Dos nossos guetos, claustros protegidos por hostes angélicas imaginárias, estabelecemo-nos nas estatísticas do emergente mercado com produtos alinhados com o exigente gosto do consumidor evangélico. “Enfim uma linha de produtos com a nossa cara” declara a perua de Jesus.

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REFLEXÕES SOBRE GRAÇA & VERDADE: SOMOS UMA FARSA!: Alex Carrari “Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe d...

Contabilidade midiota encobre ianques mutilados no Iraque

Se a quantidade de soldados estadunidenses mortos no Iraque é inteiramente subestimada pelo grande número de mercenários utilizados desde 2003 pelo Pentágono, quem dirá o de feridos, mutilados ou que sofrem com lesões cerebrais traumáticas, depressão, perda de audição, distúrbios respiratórios e toda sorte de doenças que importaram do sangrento campo de batalha em que se transformou o país.

Por Leonardo Wexell Severo

Sobre o tipo de acompanhamento médico ou psicológico dedicado às centenas de milhares de vítimas pelo governo americano, podemos ter uma vaga ideia pelo filme Sick, de Michael Moore, com inúmeras declarações de bombeiros que atuaram na queda das torres gêmeas e foram abandonados. Ao final, acabaram recebendo tratamento... Em Cuba.

Na tentativa de reduzir a montanha a um grão de areia, o Departamento de Estado utiliza a categoria altamente suspeita de “feridos em ação”. O jargão é feito sob medida para quantificar apenas e tão somente os feridos em combate e que precisaram de tratamento médico emergencial após terem sido atingidos, excluindo todos os vitimados psicológica ou fisiologicamente pelo acúmulo de tensões e ferimentos, bastante comuns entre veteranos. A magnitude do problema tem sido evidentemente minorada pelo governo - e pelas agências desinformativas a serviço do cartel bélico – convertendo-se numa forma de propaganda para encobrir a dimensão da resistência iraquiana e afegã à ocupação estrangeira.

Um artigo do jornalista estadunidense Dan Froomkin, do Huffington Post, lembra que o número de baixas assumido pelo Pentágono: 4.487 mortos e 32.226 feridos, de um total de 1,5 milhão de homens e mulheres que passaram pelo Iraque, é “descontroladamente subestimado”. “O verdadeiro número de militares feridos durante o curso do nosso fiasco está nas centenas de milhares, talvez até mais de meio milhão”. Afinal, questiona, como não levar em conta todos que retornaram com problemas de saúde que os impossibilitam de ter uma vida normal?
Ele aponta a título de reflexão alguns destes problemas, olimpicamente desconsiderados pela manipulação midiota:

- Conforme o Centro de Veteranos foram diagnosticados 229.106 casos – de leves a graves – de lesão cerebral traumática entre 2000 e o terceiro trimestre de 2011, incluindo Iraque e Afeganistão;

- Estudo de 2008 publicado no New England Journal of Medicine descobriu que 15% dos soldados relataram terem sido lesionados durante o período em que estiveram servindo, com perda de consciência ou estado mental alterado, enquanto 17% descreveram outros ferimentos. Relação que pode sugerir que 480 mil veteranos do Iraque foram feridos “de um jeito ou de outro”.

- Segundo o Centro de Veteranos, um em cada três soldados que atuaram nas agressões ao Iraque e ao Afeganistão sofrem de stress pós-traumático, depressão ou lesão cerebral traumática, o equivalente a 500 mil dos 1,5 milhão soldados estadunidenses que pisaram solo iraquiano.

- Entre os problemas mais comuns de deficiência está o de perda de audição, reforçando uma pesquisa de fonoaudiólogos com veteranos em 2005, que constatou que 72% dos expostos à explosões ficaram com seqüelas definitivas. O diretor do Centro de Audição e Surdez da Universidade de Búfalo, Richard Salvi, informou recentemente que cerca de 50% dos soldados pesquisados sofrem com “zumbidos”, vitimados por um “ruído intenso”.

- O Departamento de Assuntos dos Veteranos do governo dos EUA inclui na lista de enfermidades que os soldados trazem consigo fibromialgia (condição dolorosa generalizada e crônica que engloba também fadiga, indisposição e distúrbios do sono), problemas auditivos, hepatite A, B e C, leishmaniose, malária, perda de memória, depressão, enxaquecas e tuberculose. Entre os riscos a que foram expostos, com efeito potencializado pelas armas químicas e bacteriológicas que utilizaram indiscriminadamente contra a população civil, estão “doenças infecciosas, urânio empobrecido e estilhaços tóxicos”.

- Um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso dos EUA reconheceu ser “difícil de encontrar estatísticas sobre baixas militares”, pois há “subnotificação de baixas” e que, com base nos “feridos em ação” e nos efetivamente evacuados do Iraque, para cada um destes, outros quatro foram clinicamente retirados do país.

Para Dan Froomkim, como os problemas persistirão por décadas, “e os números citados por políticos e pela mídia não chegam nem perto de refletir o custo real”, é preciso investigar a fundo. “Nós devemos isso a eles para fazer uma contabilidade completa do seu sacrifício – e nunca esquecê-lo”, disse.

Fonte:http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=173120&id_secao=9

Mauro Santayana: Teotônio Vilela e as privatizações

As circunstâncias políticas levaram o governador Teotônio Vilela Filho a inscrever-se no PSDB – assim como muitos outros de seus companheiros de geração. Quando o fizeram, o partido surgia como uma grande esperança de centro-esquerda, animada, ainda, de proclamada intenção de saneamento dos costumes políticos. Provavelmente, se seu pai não tivesse morrido antes, ele, durante o governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso, teria mudado de legenda.

O intrépido e arroubado patriota que foi Teotônio Vilela pai teria identificado, nos paulistas que, desde então, controlam o partido, os entreguistas que, na herança de Collor, desmantelaram o Estado e venderam, a preços simbólicos, os bens nacionais estratégicos aos empresários privados, muitos deles estrangeiros, e teria aconselhado o filho a deixar aquele grupo.

O PSDB – e, com muito mais inquietação, a ala paulista do partido – se assusta com a hipótese de que a abertura do contencioso das privatizações, a partir das revelações do livro de Amaury Ribeiro Júnior, venha a trazer a punição dos responsáveis, e trata de defender-se. Seus dirigentes não parecem muito preocupados com as vicissitudes de José Serra, que não defendem claramente, mas, sim, com a provável devassa de uma Comissão Parlamentar de Inquérito – uma vez que conseguiram que a primeira investigação se frustrasse.

O partido se vale, agora, do Instituto Teotônio Vilela, para defender a entrega do patrimônio público, e isso constrange os que conheceram de perto o grande alagoano e o seu entranhado patriotismo. Ele, se não estivesse morto, iria exigir que retirassem seu nome da instituição, que nada tem a ver com as suas idéias e a sua luta. Mas ele não é o único morto que teria queixas nesse sentido. Como sabemos, os “democratas” deram o nome de Tancredo ao seu instituto de estudos, quando o grande mineiro sempre se pôs contra as oligarquias e sempre se opôs à Ditadura. Só falta, agora, o Instituto Millenium adotar o nome de Vargas.

A “Carta da Conjuntura”, do PSDB, datada de dezembro último, não se limita a cantar loas a Fernando Collor e a Fernando Henrique. Em redação ambígua, dá a entender que coube a Itamar iniciar o processo de privatização da Vale do Rio Doce, consumada em 1997. Vejamos como está redigido o trecho:

“A transferência paulatina de empresas públicas para o capital privado tornou-se política de governo a partir da gestão Fernando Collor, por meio da implantação do Programa Nacional de Desestatização. Dezoito foram vendidas em sua curta passagem pelo Planalto. O presidente Itamar Franco não retrocedeu e manteve a marcha, privatizando mais 15 companhias. Nesta época, os principais alvos foram as siderúrgicas, como a CSN, a Usiminas e a Cosipa, e as mineradoras, como a então Companhia Vale do Rio Doce (hoje apenas Vale). A Embraer também entrou na lista, no finzinho de 1994”.

Ora, é público e notório, para quem viveu aquele tempo – não tão remoto assim – que Itamar reagiu com patriótica indignação contra a privatização da Vale do Rio Doce. Reuniu, em 1997, vários nomes do nacionalismo brasileiro em seu escritório de Juiz de Fora, quando foi redigido – e com minha participação pessoal – um Manifesto contra a medida. Mais ainda: Itamar impediu, como governador de Minas, a privatização da Cemig e de Furnas, como todos se recordam.

Os defensores da privatização usam argumentos que não resistem a um exame combinado da ética com a lógica e a tecnologia. Eles se referem à privatização da telefonia como “a jóia da coroa das privatizações”. A telefonia era, sim, a jóia da coroa do interesse estratégico nacional. E se referem ao aumento e barateamento das linhas telefônicas e dos celulares. A universalização da telefonia e seu custo relativamente baixo, hoje, se devem ao desenvolvimento tecnológico. Com o aproveitamento maior do espectro das faixas de rádio-frequência, a miniaturização dos componentes dos aparelhos portáteis e as fibras óticas – para cuja adequação à telefonia nacional foi decisivo o trabalho desenvolvido pelos técnicos brasileiros da CPT da Telebrás. Se assim não fosse, os nômades da Mongólia não estariam usando celulares, nem os usariam os camponeses do vasto interior da China, como tampouco os habitantes da savana africana. Como ocorreu no mundo inteiro, o desenvolvimento técnico teria, sim, universalizado o seu uso no Brasil, com a privatização e, principalmente, sem ela.

Ao ler o texto, lembrei-me dos muitos encontros que tive com Teotônio Vilela, nos seus últimos meses de vida, em São Paulo, no Rio e em Belo Horizonte. Ele lutava com bravura contra o câncer e contra a irresponsabilidade das elites nacionais. A memória daquele homem em que a enfermidade não reduzia a rijeza moral nem o amor ao Brasil – o Brasil dos vaqueiros e dos jangadeiros do Nordeste, dos homens do campo e dos trabalhadores do ABC - me confrange, ao ver seu nome batizando uma instituição capaz de divulgar documentos como esse.

É necessário, sim, rever todo o processo de privatizações, não só em seus aspectos éticos e contábeis, mas também em sua relação com o sentimento nacionalista de nosso povo. Os arautos da entrega alegam, no caso da Vale do Rio Doce, que a empresa tem hoje mais lucros e recolhe mais impostos do que no passado, mas se esquecem de que isso se faz na voraz exploração de nossas jazidas, que jamais serão recuperadas, e sem que haja compensação justa aos municípios e estados produtores.

E há mais: foi o dinheiro brasileiro que financiou a privatização das telefônicas e vem financiando as empresas “compradoras”, como se vê nos repetidos empréstimos do BNDES para sua expansão e fusões, como no caso da Telefônica de Espanha.

Enfim, os “pensadores” do PSDB pensam que os brasileiros são parvos.


Fonte:http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=173133&id_secao=1

domingo, 1 de janeiro de 2012

Cuidado com a anti-reforma

Por Carlos Chagas: http://www.institutojoaogoulart.org.br/noticia.php?id=4803

Detectam-se os primeiros sinais. Tendo o Brasil assumido o patamar de sexta economia do mundo, e com o ministro Guido Mantega prevendo que em 2015 passaremos a França para ocupar o quinto lugar, voltam as elites retrógradas a falar em “reformas”. Jamais aquelas pelas quais João Goulart sacrificou seu mandato, as “de base”, mas as destinadas a fazer os ricos mais ricos e os pobres, mais pobres. Prevê-se para o próximo ano campanha coordenada pela mídia amiga e as associações patronais de classe. Aliás, já começaram, neste restinho de ano. Vão exigir do governo as reformas tributária, trabalhista, previdenciária e outras. Todas destinadas a aumentar-lhes os privilégios e as benesses, penalizando a classe média e as massas, da mesma forma como aconteceu no governo Fernando Henrique Cardoso.
Vale começar pela tributária. Nossa carga é a maior do mundo, beira os 40% de todos os ganhos, com a peculiaridade de que as empresas podem repassá-la ao preço dos produtos e serviços, mas o cidadão comum, assalariado, não. Ele paga mesmo. O lógico na reforma tributária seria diminuir seu percentual, especialmente o que incide nos salários e vencimentos. Não é o que pretendem certas elites, muito pelo contrário. Já fazem renascer a canhestra sugestão de que se houver mais gente que paga impostos, todos pagarão menos.
Todos quem, cara pálida? O trabalhador de salário mínimo ou pouco mais, que só enfrenta impostos indiretos, e a classe média, pressionada pelos dois lados. Trata-se de esperteza. Mais uma, porque o sociólogo eximiu o capital especulativo estrangeiro de pagar imposto de renda, liberou as remessas de lucros, privatizou patrimônio público e revogou direitos sociais. O que se pretende agora é a continuação do massacre.
Sem falar na mágica de despejar a desoneração das folhas de pagamento sobre os ombros do trabalhador, primeiro estágio da reforma trabalhista. Essa é tão perigosa quanto a anterior, na medida em que pretendem revogar as indenizações por dispensa sem justa causa e fatiar o décimo-terceiro salário e as férias remuneradas em doze parcelas anuais. Com o correr dos anos e a compressão salarial em andamento, logo desapareceriam esses dois benefícios, incorporados. Não demora muito e irão propor o fim do vale-transporte e do vale-refeição.
Tão perniciosa quanto as outras é a reforma previdenciária. O governo Lula e agora o governo Dilma seguem na esteira anterior do neoliberalismo, aumentando o salário mínimo pouco acima da inflação, mas sacrificando os aposentados com direito a quantias superiores. A meta é nivelar todo mundo por baixo, ou seja, em pouco tempo a totalidade dos aposentados receberá apenas o salário mínimo. Menos, é claro, os privilegiados das chamadas carreiras de estado. Desejam, também, aumentar o tempo de trabalho de quem pretende aposentar-se.
A conversa é a mesma, falaciosa: “A Previdência Social dá prejuízo!” Mentira. Aqui e ali, ex-ministros do setor, como Antônio Brito e Waldir Pires, provaram que dá lucro, mas por conta de repasses e de químicas, generalizou-se ser deficitária. Bela desculpa para incentivar a Previdência Privada e aumentar ainda mais o lucro dos bancos.
Em suma, é bom tomar cuidado com a euforia despertada pelo suposto crescimento de nossa economia. Os mesmos de sempre pretendem tirar vantagem, sem atentar para o fato de que a distribuição de renda no Brasil é das piores do planeta. Basta atentar que o salário mínimo subirá no primeiro dia do ano. Passa de 545 para 622 reais. Uma porcaria. Seria tentador imaginar como um desses defensores das “reformas” sobreviveria assim. De vez em quando surgem estatísticas lembrando que se o salário mínimo tivesse mantido a proporção de quando foi criado, estaria hoje em 2.500 reais.
Getulio Vargas, quando voltou ao poder, em 1951, tentou recuperar o valor de sua criação, permitindo que o ministro do Trabalho, João Goulart, propusesse a imediata duplicação. Caíram os dois. Explica-se, também, porque os governos dos trabalhadores saltam de banda e ainda se auto-elogiam com o reajuste anual da remuneração da imensa massa de trabalho nacional. Sem um reparo que seja por parte do PT, do PTB, do PDT e outros partidos ditos trabalhistas.
Para concluir, um alerta. As elites ainda não tiveram tempo para examinar e sugerir outra reforma, a política, discutida de mentirinha no Congresso. Tomara que não se lembrem, pois logo estarão pregando o fim do voto universal e obrigatório, trocado pelo voto facultativo e, quem sabe, como no Império, pelo direito de votar apenas para quem dispuser de determinada renda. Claro que muito superior ao salário mínimo…