No último dia 11 a juíza Patrícia Lourival Acioli terminou assassinada com vários tiros de armas calibre .40 e .45 quando retornava para sua casa em Niterói no Rio de Janeiro. Titular da Vara Criminal de São Gonçalo, era conhecida pelo rigor com que julgava e sentenciava criminosos como policiais envolvidos com milícias no Rio de Janeiro. A juíza tratava esses criminosos sem perdão. Julgamento rápido, rigor na inquirição dos réus e maior rigor ainda na condenação. Para ela era simplesmente imperdoável que agentes da lei tivessem decidido seguir o caminho do crime e por isso mereciam as penas mais severas. Seu nome estava incluído numa lista de nomes de magistrados a serem executados. - Enquanto seu carro todo furado de balas ainda era periciado, baixava à sepultura o corpo da juíza, mais uma magistrada que realmente deu valor e vida ao seu juramento como defensora da sociedade e do cidadão comum e que investindo com seu rigor condenatório contra os criminosos que viessem a cair sob sua pena, caiu sob as balas dos seus inimigos. Inimiga jurada de morte pelas milícias, em momento algum se deixou intimidar pelas ameaças que recebeu. Com toda coragem continuou seu trabalho. Facilitou o trabalho dos assassinos ter sido deixada à mercê da sua sorte pelo poder público, hoje largamente mancomunado com essas milícias. Após seu assassinato, como era previsível os jornais e noticiários da televisão foram tomados pelos manifestos adequadamente consternados de diversas entidades. É de se perguntar o que vão fazer. Nada além de ficarem encolhidos de medo pela formidável aglomeração de criminosos em se tornou o poder público nos dias de hoje. - Temos um executivo omisso que se importa mais com as fotos de corruptos envolvidos em desvio de recursos expostas no jornais, um legislativo que em parte considerável deve o dinheiro de suas campanhas eleitorais ao poder do crime organizado e um número inquietante de magistrados que quando não estão envolvidos em atos de corrupção, já entenderam o recado, ou seja, não condenar ninguém das milícias. Quem fizer isso morre, quem fizer de conta que não está vendo nada, continua vivo. É só não aborrecer o crime organizado com suas sentenças. - Se ficar vivo significa ser leniente com esse estado criminal, é isso que vão fazer a não ser os poucos corajosos que honram sua missão de magistrados e defendem o cidadão e a sociedade a qualquer custo contra o crime, até mesmo com o custo de suas vidas. Esses são os idealistas e corajosos, hoje praticamente abandonados numa galeria de tiro onde os criminosos periodicamente vem abater os alvos que os incomodam, enquanto que os outros membros da dita sociedade representativa ficam encolhidos de medo atrás do estande de tiro. - E como usual, a cada acontecimento desse tipo vemos o habitual teatro de marionetes em marcha. Num completo quadro de desagregação, intelectuais e artistas vão continuar organizando marchas e eventos. Pela liberação das drogas e é claro, pelo desarmamento do cidadão, para que ele fique tão indefeso quanto a juíza. - Um dos exemplos do esquecimento que vai se abater sobre a memória da juíza é o monumento à corrupção que existe no Rio de Janeiro, a infeliz Cidade da Música que já consome quase 500 milhões de reais, 5 vezes mais que o valor inicial da obra e nenhum membro dessa sociedade fez alguma coisa para impedir isso. Ou não pôde, pelas leis em vigência, o que de qualquer forma apenas mostra sua impotência. Esse é apenas um exemplo. Milhares de outros existem pelo Brasil afora e sabe-se lá quantos no Rio de Janeiro. Com apenas uma fração do valor gasto nessas obras, os juízes dedicados, leais e decentes teriam uma tropa especializada para unicamente cuidar da sua proteção e reprimir com extrema e necessária violência o crime organizado, o que é legítimo e certo num combate entre o crime e a sociedade. Defender uma resposta violenta a esses atentados do crime organizado nada tem de errado. Atos deliberados de extrema violência contra mandantes ou subordinados do crime em represália aberta aos criminosos através de expedições punitivas abertas ao conhecimento público teriam um efeito salutar e por assim dizer profilático. - Diminuiu o número de juízes e policiais decentes e defensores da sociedade por terem sido executados pelo crime organizado? Sem problemas. Uma bem preparada coluna de busca, captura e execução de bandidos daria o troco imediato. Logo os mandantes do crime organizado veriam baixas consideráveis em suas fileiras, pior ainda, que qualquer atentado contra defensores da lei ou cidadãos teria um custo muito caro para eles. Hoje o que vivemos é o inverso. Pior ainda, logo estarão todas atenções voltadas para a espantosa Copa de 2014, outro monumento da estupidez e da corrupção que nos foi legado pelo governo anterior em sua ânsia de busca por holofotes da imprensa nacional e internacional que dessem realce à figura do seu sucessor, com o objetivo único de agregar propaganda e apoio para sua eleição, numa bem calculada manobra de enganar um povo incapaz de decidir o que realmente é melhor para si. E nesse caminho, a juíza será apenas um nome esquecido num túmulo, enquanto outros magistrados combativos como ela estarão também esquecidos e desprotegidos. Num clima de tristeza sem fim entre os que lutam pela Justiça, baixou à sepultura o corpo da juíza Patrícia Lourival Acioli. Lutadora corajosa, mesmo ameaçada de morte honrou seu trabalho de magistrada, deu valor à causa de defender a sociedade contra o crime, não foi complacente com os que mereciam uma condenação certa e em momento algum vacilou em seu trabalho. E não longe dalí, num clima festivo entre os grupos do crime organizado, os membros das milícias tiveram a certeza de que com seu crime realmente alcançaram seu objetivo. Matar os que se opõem a eles e que ousam condenar seus comparsas e ter a certeza de que o resto dos magistrados e outras autoridades não comprometidas com a defesa da Justiça até fim, hoje são apenas meros, silenciosos e obedientes espectadores na galeria de tiro. Com todo o poder que esses obedientes espectadores tem na mão e que poderiam usar até para saírem caçando os criminosos pessoalmente de arma em punho, agora vão apenas ser bons redatores de discursos de protesto.
Fonte: http://cartasdepolitica.blogspot.com/
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