sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Ângela Ro Ro 10 anos sem beber e sem drogas



Angela Ro Ro escandaliza com a sua metamorfose ambulante e retoma a carreira com o CD “Compasso”, que reúne reggae,
bossa nova, samba-canção e bolero.
Ela desceu ao inferno, entre delegacias e escândalos, perdeu 
58 kg , fez plástica, e ressurgiu de bem com a vida e, o que é melhor, sem abrir mão da irreverência que sempre marcou o 
seu estilo. Revela como parou de beber e de fumar e recomeça
a vida em ritmo de saúde, depois de passar pelo desespero ao 
ser internada. Ro Ro teve força de vontade cotidiana que fez 
toda a diferença entre aqueles que sobrevivem a impulsos autodestrutivos.
Angela sobreviveu a si mesma e a sua geração, no ritmo woodstockiano das bandeiras de sexo, drogas e rock'n'roll, nas baladas da vida afora. Ela continua saudavelmente louca e 
afirma que nunca é tarde para recomeçar.
Toda esta espantosa reviravolta foi feita, segundo ela, sem
a ajuda de grupos de dependentes químicos ou de psicoterapias especializadas. Ro Ro diz que contou apenas com a coragem 
com que veio ao mundo, em 5 de dezembro de 1949. A mesma coragem que “aditivada”, celebrizou-a por expor, Brasil afora, 
tanta doideira e escancaração que até Caetano Veloso compôs, 
em homenagem à sua rotina impressionante, a canção “Escândalo”.
Para a terapeuta Constança Teixeira de Freitas, ex-doidona,
há 20 anos sem “álcool e talco”, como se refere à bebida e à cocaína, Ro Ro traçou seu compasso em direção à saúde pelo caminho mais difícil. Diretora da Clínica Solar da Serra, para dependentes químicos, Constança diz que a luta é mais fácil 
com a ajuda de grupos e especialistas.
Para a artista, este é o seu jeito de enfrentar adversidades: sozinha, com as próprias forças. O start, segundo ela, foi justamente a falta de start. Sem fôlego, parou um show em 1999 e avisou o público que não conseguia cantar “All the way”, de Sinatra. Dali, cartão do plano de saúde em punho, foi para o Hospital 
Silvestre:
- Eu agarrava os médicos chorando e pedia, pelo amor de
Deus, só 21 dias. Era meu cacife todo naquela mesa de 
bacará, no dia 21. Precisava desse tempo para não cair na vida 
de novo. Estava na miséria absoluta física, emocional, espiritual.
E sem grana. Meu pai tinha falecido, minha mãe estava morrendo. Parecia que eu era a próxima a ir.
Hoje Ro Ro é um exemplo orgulhoso da equipe de médicos admirada, segundo ela, com a transformação radical, por seu 
próprio esforço. Irreverente, Ro Ro manda um recado para os drogados, “especialmente para os jovens”:
- Viver sem drogas é fácil. Difícil é viver sob os maus tratos.
Seja louco, pare de beber! Seja doidão, pare de fumar – 
grita, às gargalhadas.
A SEGUNDA ETAPA DE ANGELA
para conquistar a saúde, ao sair do hospital, já desintoxicada,
foi maquinar um plano para não recair:
- Passei numa loja de eletrodomésticos e comprei tudo novo 
para minha casa: geladeira, fogão, secretária eletrônica. Não parece, mas isso foi muito importante pra concretizar a vida 
nova. Depois, fui franca com a minha empregada, que usava 
rogas pesadas. Disse: “Ou eu, ou as drogas”. Não podia 
ficar com elas e ser vítima do meu próprio desgosto. Estava superobesa, 
com 118 quilos e, ao mesmo tempo, com uma aparência 
cadavérica. Seria presa fácil de minha fraqueza, que era o vício químico. Penha já era uma amiga, na verdade herança de outra amiga, Berenice, que morreu de Aids também por uso de drogas injetáveis. Penha foi embora. Morreu de derrame cerebral, do excesso de drogas.
Outro impulso para a vida foi um telefonema de sua mãe, antecipando a própria morte:
- Minha mãe me ligou e disse: “Angela Maria, não chora, 
sua mãe está morrendo”. Foi a força que eu precisava.
Foi a força que eu precisava. Eu queria mostrar para meus
pais que eu sairia daquela vida, mas, infelizmente não 
deu tempo. Minha mãe me disse: “Angela Maria, tenha 
confiança em você”.
Eu perguntei: “Puxa, mãe, porque você nunca me disse isso,
só agora?
Ela respondeu: “Porque você nunca precisou”.
Angela botou a cabeça pra funcionar:
- Sempre pensei muito. Minha mãe sempre me perguntava, brincando, se eu era artista ou autista, de tanto tempo 
que eu ficava sozinha, num canto, balançando a cabeça e 
pensando, pensando. Comecei a fumar com 11 anos, 
comecei a beber de brincadeira com 20 anos para desinibir.
Antes era uma natureba, macrobiótica, tímida. Desinibi 
tanto que o fígado quase veio para fora. Depois, ansiolítico
pra mim era balinha, tomava aos borbotões. Já estava com esteatose hepática, aquelas estrias que dão no fígado de
tamanho aumentado.
A morte da Penha também me mostrou que eu estava no caminho certo. Sem dinheiro para clínicas especializadas, spas para perda de peso ou personal trainer, Ro Ro foi buscar ajuda no seu aprendizado de adolescente existencialista e macrobiótica a solução para a vida nova, sempre sozinha:
- Não liguei para ninguém para aprender a fazer bobagem, não ia ligar para ninguém para deixar de fazê-las. Como eu iria telefonar para o dono do restaurante caríssimo, onde eu gastava fortunas em bebidas e foie gras e perguntar o que fazer com o meu fígado que tinha virado também um patê?
Eu adorava patês, mas já tinha um dentro de mim. E 
depois ainda fumava charutos e cigarrilhas. Estava de 
um jeito que não podia ficar em pé, nem deitada, nem
 sentada. Tinham que me pendurar num cabide – lembra.
Ro Ro recusou o grupo de alcoólicos anônimos – 
“Era alcoólatra e continuo sendo, mas não sou anônima. 
Todo mundo vai, menos eu”, rebateu – e negou-se a tomar psicofármacos:
- Tomei um Prozac e fiquei rindo falso. Nunca mais! Esse comprimido é um fingidor. O jeito era resgatar, sozinha, 
várias coisas dentro de mim, principalmente eu mesma. 
Tive a certeza que meus pais gostavam de mim, tanto que 
aturaram tantas marcações de touca. Descobri que 
gostavam de mim porque eu sou pura, de bom caráter, 
de bom coração e faço um esforço brutal para pensar.
ogo eu, que fui de colégio de freira, até entrei num 
convento para ser freira e tomava overdose de hóstia. 
Era viciada em comungar.
Depois de meio século de vida, Angela Ro Ro diz que 
está de volta a uma “loucura fantástica”, que é 
a loucura de se autoconhecer:
- Nada que é humano é negativo. Num mundo cada 
vez mais desumanizado, com a vida sem valer nada, 
qualquer humanidade é bem vinda, mesmo desmedida.
É assim que ela vê também o Brasil, sacudido por 
escândalos. Segundo Angela Ro Ro, nunca se viu 
exercício de democracia como nos últimos quatro anos:
- Nada que venha à luz da verdade é negativo. 
É sempre um passo adiante.
Nas reflexões profundas sobre o alcoolismo, 
Angela Ro Ro faz “ponderações socioantropológicas”, 
como diz, sobre o abandono total do alcóolatra pela
 sociedade, pelo ambiente de trabalho e pela família:
- Às vezes, você está alcoólatra aos 20 anos e você 
só perde: a saúde, o fôlego, o emprego, o respeito 
da família, o afeto das pessoas das quais você mais
gosta. Não existe nenhuma salvaguarda para essa 
pessoa que é induzida a beber pela propaganda, pelo 
sistema de consumo. Isso, pra mim, é o pior de tudo.
O álcool não é bem considerado droga. Você tem que 
se vigiar mesmo, porque você não vai ter respaldo de 
ninguém. Vai ser culpado. Não vou dizer que não tomei 
uma cerveja nestes sete anos. Tomei, mas para saber 
que não estava gostando. Posso escorregar também 
na pizza e no açúcar, mas quero dar inveja aos leitores:
cigarro nunca mais fumei – conta.
A terapeuta Constança Teixeira de Freitas conta que 
sentiu na própria pele este abandono, quando, há 20 
anos, tentou livrar-se das drogas:
- Alcoólatra pra mim era aquele mendigo caído no 
meio-fio, abraçado a uma garrafa.
Depois de muitos blackouts , quando eu não me lembrava
 mais da noite anterior, eu me vi, numa manhã, andando 
descalça de roupa de festa no Jardim Botânico, saindo 
da casa de amigos, onde havia virado a noite.
Disse para mim mesma: “Sou alcoólatra”. Procurei o AA, 
achando que ia encontrar aqueles mendigos. Fiquei 
boba de ver lá senhoras simpáticas e elegantes que 
me perguntaram: “Você consegue ficar um dia sem beber?”.
 Disse: “Um dia é mole”. Elas me disseram que, então, 
eu poderia vencer. Porque quem fica um dia, fica dois, 
três e lá se vão 20 anos.
Constança explica que a dependência química é uma 
doença tratável e não vícios ou falta de força de vontade:
- O dependente químico usa o álcool e a droga como 
compensação para aliviar, acalmar, animar. Seríamos 
bipolares. É uma doença progressiva. As doses ou a frequência vão aumentando.
O que mais atrapalha a recuperação são os preconceitos. Os próprios dependentes e a família escondem o problema. 
Mas eu faço questão de falar. Se todo mundo me viu completamente louca na noite, porque não falar de minha recuperação?
O cantor Nando Reis também resolveu falar de sua busca
para se livrar da bebida, com a ajuda do AA. Em entrevista 
à última edição da revista “V”, Nando Reis conta como 
o álcool começou a prejudicar seriamente a sua vida:
- Quando você percebe que sua capacidade de parar está comprometida, precisa de ajuda.
O AA é magnífico.
Sempre vinculei meu trabalho com estado de alteração. 
Nunca me ocorreu que isso pudesse me trazer problemas. 
Sempre gostei de estar num show bebendo, ensaiar 
bebendo, compor bebendo, ir à praia bebendo, tudo
normal.
Entrei numa fase de precisar mais e mais e vi que 
teria um prejuízo muito grande. 
Vi que estava em decadência.
Fonte:

Ângela Ro Ro 10 anos sem beber e sem drogas.


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